Mercosul e União Europeia: Um Acordo em Defesa do Multilateralismo
O artigo analisa o possível acordo político entre Mercosul e União Europeia, destacando seu potencial de ampliar mercados e fortalecer o multilateralismo em meio ao avanço do protecionismo global. Também discute as controvérsias, desafios de ratificação e implicações geopolíticas frente às tensões comerciais com os Estados Unidos.
9/24/20252 min ler


Mercosul e União Europeia
As crescentes tensões comerciais globais, marcadas por políticas protecionistas e tarifas unilaterais, têm colocado em xeque os princípios do livre comércio defendidos desde a criação da Organização Mundial do Comércio (OMC). Nesse cenário, o consenso político nas negociações do acordo entre o Mercosul e a União Europeia, em dezembro de 2024, ganha relevância não apenas econômica, mas também geopolítica: trata-se de um possível pacto que sinaliza resistência ao avanço do isolacionismo e à fragmentação do comércio internacional.
O possível acordo prevê a redução ou eliminação gradual de tarifas sobre mais de 90% dos bens trocados entre os blocos, além de estabelecer regras comuns em áreas como propriedade intelectual, medidas sanitárias, padrões ambientais e práticas concorrenciais. Para o Mercosul, representa acesso privilegiado a um dos maiores mercados consumidores do planeta, com destaque para setores de consumo como carne bovina, café, suco de laranja, grãos e vários outros. Já para a União Europeia, a abertura cria novas oportunidades de inserção em mercados latino-americanos em expansão, especialmente nos segmentos de manufaturas e serviços. Desse modo, produtos de alto valor agregado tendem a se tornar mais acessíveis, ampliando o mercado para a indústria europeia.
Entretanto, o pacto não está isento de controvérsias. Na Europa, setores agrícolas – sobretudo na França e na Itália – temem a concorrência de produtos latino-americanos com custos mais baixos. No Mercosul, por sua vez, produtores e analistas manifestam preocupação de que exigências ambientais e sanitárias acabem se convertendo em barreiras não tarifárias, restringindo de fato o acesso prometido. Esse debate reflete uma tensão central do comércio internacional contemporâneo: o equilíbrio entre competitividade econômica e compromissos socioambientais.
Politicamente, o tratado pode ser interpretado como um contraponto direto às medidas recentes dos Estados Unidos. Enquanto Washington eleva tarifas e adota instrumentos unilaterais de pressão – como demonstrado nas tarifas de 50% impostas ao Brasil em julho de 2025 – Bruxelas busca consolidar o multilateralismo como ferramenta de estabilidade e previsibilidade no comércio global. Nesse sentido, a parceria Mercosul-UE funciona como um símbolo de resistência à lógica de guerras tarifárias.
Por outro lado, sua implementação não é automática. O texto ainda precisa ser ratificado por todos os parlamentos nacionais dos da União Europeia e seguido pelo Parlamento Europeu, processo que pode ser prolongado e politicamente delicado. Além disso, exigirá do Mercosul capacidade regulatória e institucional para adaptar suas cadeias produtivas a padrões de rastreabilidade, sustentabilidade e certificações ambientais.
Em termos de futuro, o sucesso do acordo dependerá da habilidade dos dois blocos em transformar o pacto em ganhos concretos, sem que se torne apenas um instrumento retórico contra o protecionismo global. Caso seja plenamente implementado, pode fortalecer o papel do Mercosul como ator relevante na arena comercial internacional e, ao mesmo tempo, dar à União Europeia um espaço estratégico em uma região cada vez mais disputada por Estados Unidos e China.
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