O Xadrez do Mar do Sul da China: poder, disputa e implicações estratégicas

O artigo analisa a disputa no Mar do Sul da China, destacando sua importância estratégica, o papel central de Taiwan e as tensões entre Pequim, países vizinhos e os Estados Unidos. Aborda ainda o uso de ilhas artificiais e argumentos ambientais como instrumentos de poder chinês, os riscos de mudança no equilíbrio internacional e os desafios para a soberania regional.

10/2/20253 min ler

A couple of ships that are sitting in the water
A couple of ships that are sitting in the water

O Xadrez do Mar do Sul da China

O Mar do Sul da China segue como um dos principais tabuleiros geopolíticos contemporâneos, onde interesses territoriais, comerciais, ambientais e militares se cruzam de forma complexa. Trata-se de uma das rotas marítimas mais movimentadas do mundo, além de abrigar recursos potenciais de pesca, petróleo e gás natural. Essa centralidade estratégica explica por que a região é palco de disputas constantes entre a China e seus vizinhos — Filipinas, Vietnã, Malásia, Brunei e Taiwan — e de tensões com os Estados Unidos e seus aliados.

Entre os elementos mais sensíveis está Taiwan, cuja relevância ultrapassa a dimensão territorial. Além de constituir uma saída direta para o Pacífico Ocidental, a ilha é um dos centros tecnológicos mais avançados do mundo, abrigando indústrias estratégicas, como a de principalmente semicondutores. Para Pequim, incorporá-la ao seu espaço político significaria consolidar uma linha de defesa marítima mais ampla e reduzir a capacidade de dissuasão norte-americana na área. Para Washington e aliados, a perda de Taiwan representaria não apenas um revés diplomático, mas uma possível alteração no equilíbrio de poder no sistema internacional vigente.

Nos últimos meses, em paralelo, as atenções se voltaram para o Scarborough Shoal, área reivindicada tanto por Pequim quanto por Manila e Taipé. A China anunciou a criação de uma reserva natural no local, que chamou de Huangyan Island, alegando preocupações com o meio ambiente. O governo filipino protestou imediatamente, classificando a medida como um artifício para reforçar a ocupação chinesa de um território contestado. Os Estados Unidos também reagiram, acusando Pequim de recorrer à “coerção disfarçada de preservação” e defendendo o direito soberano das Filipinas segundo a Convenção da ONU sobre o Direito do Mar.

A disputa ganhou novos contornos quando a Guarda Costeira chinesa afirmou ter tomado medidas de controle contra embarcações oficiais filipinas que operam na área, acusando-as de atividades ilegais. Pequim ainda advertiu Manila contra o que chamou de provocações, especialmente após exercícios navais conjuntos realizados com Japão e Estados Unidos. Esse quadro reflete a dinâmica estratégica da região: de um lado, a China recorre a instrumentos jurídicos, administrativos e ambientais para consolidar suas reivindicações; de outro, Filipinas e aliados tentam respaldar sua posição em laudos arbitrais internacionais, como o de 2016, que rejeitou muitas das alegações chinesas.

Geopoliticamente, a China tem recorrido a uma estratégia inovadora como a criação de reservas naturais e a construção de ilhas artificiais para legitimar sua presença no Mar do Sul da China, expandindo infraestruturas militares e compensando a ausência de bases avançadas. Esses movimentos reforçam sua capacidade de controlar rotas comerciais e pressionar vizinhos, ao mesmo tempo em que representam ameaça direta aos meios de subsistência de países do Sudeste Asiático e alimentam a percepção de perda de soberania dos mesmos. Já para os Estados Unidos, tal avanço reduz seu espaço de manobra, fragilizando sua credibilidade como garantidor da liberdade de navegação e pode levar aliados regionais a reavaliar compromissos históricos. Em escala global, o fortalecimento de Pequim sinaliza não apenas um desafio, mas também a possibilidade de reconfiguração das dinâmicas regionais, com a ascensão de um novo centro de poder no Indo-Pacífico capaz de influenciar rotas comerciais, alianças estratégicas e normas de segurança marítima.

As implicações desse jogo são profundas. Se por um lado há risco de escalada diplomática e até de militarização latente, por outro permanecem abertas possibilidades de negociação em áreas específicas, como as zonas de pesca. O mais provável, contudo, é que o Mar do Sul da China continue sendo palco de disputas simultaneamente diplomáticas, jurídicas e militares, onde cada movimento é calculado como em um jogo de xadrez. Para a China, trata-se de consolidar um espaço de influência vital e, possivelmente, remodelar o equilíbrio de poder internacional em seu favor; para as Filipinas, é a defesa de sua soberania; e para os Estados Unidos e aliados, a manutenção de normas internacionais que evitem o domínio unilateral e a consequente perda de influência de uma das regiões mais estratégicas do planeta.

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