Platão - Sua relevância para o crescimento qualitativo da sociedade
Neste artigo, você entenderá as principais ideias de Platão, sua relação com a fé e o cristianismo, e como sua filosofia propõe um caminho de elevação moral e como aplicá-lo à sua vida
10/17/20255 min ler


A Filosofia de Platão
A filosofia de Platão nasce do impulso de ultrapassar os limites do conforto e das convenções de seu tempo. Filho de uma nobreza ateniense, cercado de privilégios e promessas políticas, o filósofo escolheu o caminho oposto: o da renúncia ao mundano, à corrupção dos costumes e à decadência moral que permeava a pólis. Seu espírito inquieto buscava algo que transcendesse a efemeridade da vida pública e as opiniões volúveis dos homens. Em seu anseio pelo absoluto, Platão encontra em Parmênides o eco daquilo que passaria a ser o alicerce de sua metafísica: “o que é, é”. A partir dessa máxima, compreende que a realidade não depende da percepção humana — ela existe por si mesma, de modo imutável e eterno. As opiniões, por mais sedutoras que sejam, são ilusões; distorções do real que afastam o homem da verdade.
Essa concepção inaugura uma revolução no pensamento ocidental. O conhecimento verdadeiro, para Platão, não nasce das aparências, mas da elevação da alma. Conhecer é educar o espírito a transitar do sensível ao inteligível, do transitório ao eterno. É por isso que o filósofo insiste que a educação não é um privilégio da infância, mas uma tarefa vitalícia. Educar crianças é plantar as sementes da virtude; educar adultos é lapidar o que o tempo endureceu. E, nesse processo, o homem deve ser formado em todas as dimensões de sua existência — no corpo, na alma e na razão. A disciplina física e a boa alimentação, conforme defendia, não são meras práticas de saúde, mas parte do ordenamento moral do ser. Um corpo forte e uma alma virtuosa caminham lado a lado, pois o vigor físico sustenta o espírito e a coragem que dele emanam.
Platão, portanto, concebe a realidade como uma dualidade: o mundo sensível — das sombras, da mutabilidade e das ilusões — e o mundo inteligível — das ideias eternas, perfeitas e imutáveis. Tudo o que existe no plano terreno é uma cópia imperfeita de um modelo ideal. Assim como a matemática precede a engenharia, o ideal antecede a forma. Há, em cada coisa, o anseio de conformar-se ao arquétipo perfeito, à ideia primordial que a sustenta. E é nesse universo metafísico que residem os três princípios supremos: o belo, o bom e o verdadeiro. O belo, para Platão, não é mera estética — é o reflexo visível do que é eterno. O bom é a própria essência do ser, e o verdadeiro é a luz que ilumina tudo o que existe. Quanto mais algo participa do eterno, mais belo e mais real se torna.
No célebre Mito da Caverna, Platão retrata a jornada da alma humana: o lento e doloroso abandono das sombras em direção à luz. A luz simboliza o Bem — princípio divino, imutável e anterior à própria natureza. Sair da caverna é libertar-se das correntes da ignorância, da aparência e do prazer efêmero; é reconhecer que o real não se submete à vontade humana, mas a transcende. Permanecer na caverna, por outro lado, é escolher a ilusão, o conforto da mentira e o medo da verdade. Essa escolha, porém, não é apenas individual — é também política. A tarefa da política, segundo Platão, é conduzir o homem para fora da caverna, educando-o para a virtude, para o bem e para o uso racional da liberdade. Quando a política falha em cumprir essa missão, a sociedade adoece; e o resultado inevitável é a tirania.
A degeneração política, para Platão, reflete a degeneração das almas. O governo dos sábios — que busca a justiça e a verdade — dá lugar ao governo dos que amam a glória; depois, ao domínio dos que amam a riqueza; e, por fim, à anarquia dos que amam apenas o prazer. Quando a liberdade se converte em desordem e cada homem passa a ser sua própria lei, a democracia, desvirtuada, abre as portas à tirania. O povo, cansado do caos que criou, clama por um tirano que lhes devolva a ordem — e o faz entregando-lhe, em troca, a própria liberdade. Assim, o fim da democracia não é uma ruptura repentina, mas a consequência moral de uma alma coletiva corrompida.
Confúcio, em outro horizonte civilizacional, compreendeu de forma semelhante que a decadência moral precede a ruína política. Para ele, a filosofia era o coração do estudo de todas as coisas, e uma sociedade justa só poderia florescer se enraizada na virtude. Quando o homem deixa de construir o bem e passa a buscar apenas o prazer, o corpo enfraquece, o espírito se corrompe e a cultura decai. A música torna-se vulgar, a alimentação desequilibrada, e a masculinidade — símbolo da força e da responsabilidade — degenera em passividade. Nesse terreno fértil, o tirano se apresenta como aquele que oferece prosperidade sem sacrifício. As massas, seduzidas pela promessa de conforto, entregam a liberdade em troca de “free stuff” — e, sem perceber, instauram o governo do demônio, o governo da morte.
Platão via na alma humana a origem e o fim de toda ordem. O homem injusto, ainda que pareça vitorioso aos olhos do mundo, é escravo de sua própria desordem interior. O homem justo, mesmo quando sofre uma injustiça, preserva a integridade da alma e, portanto, vive em harmonia com o divino. “É melhor sofrer uma injustiça do que cometê-la”, dizia Platão, porque quem a comete fere o próprio ser. A virtude, nesse sentido, não é uma virtude ornamental — é a saúde da alma.
A filosofia de Platão, ainda que anterior ao cristianismo, antecipa muitos de seus fundamentos espirituais. Sua concepção do Bem como princípio supremo e causa de tudo que existe reflete, de modo filosófico, a ideia cristã de Deus como fonte de toda luz, verdade e perfeição. Assim como o Bem platônico ilumina o inteligível e ordena o cosmos, Deus, na fé cristã, é o Criador que sustenta o ser e o guia rumo à salvação. A ascensão da alma em direção ao mundo das ideias encontra paralelo na busca cristã pela união com o divino: ambas são jornadas de purificação, de libertação das sombras e de retorno à origem — ao que é eterno, imutável e perfeito.
A filosofia, para Platão, é o caminho de retorno à luz — o movimento de reconciliação do homem com o Ser. Buscar o conhecimento é purificar-se, é ordenar o caos interior e elevar-se ao divino. É por isso que o verdadeiro filósofo não é o que sabe, mas o que busca incessantemente. Sua meta é o Bem, o eterno, o imutável — tudo aquilo que “é”, independentemente da vontade humana.
A modernidade, contudo, parece ter regressado à caverna. A verdade foi relativizada, a aparência substituiu o ser, e a opinião transformou-se em dogma. A liberdade, descolada da virtude, tornou-se desordem. A democracia, ao desprezar a verdade, transfigura-se em tirania. O homem moderno, cego pela ilusão da autonomia absoluta, esqueceu que não é a medida de todas as coisas, mas que há uma ordem anterior, eterna e divina à qual deve ajustar sua vida.
Retornar a Platão, portanto, é mais do que um exercício intelectual — é um ato de salvação moral. É recordar que “o que é, é”, e que a verdadeira liberdade não consiste em fazer o que se quer, mas em querer o que é justo. O mundo precisa, mais do que nunca, reconciliar-se com o Bem, o Belo e o Verdadeiro — com aquilo que é eterno, imutável e divino. Pois quando o homem se desliga do eterno, resta-lhe apenas a sombra, e a sombra, por mais confortável que seja, jamais deixará de ser prisão.
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